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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

SANTA ÂNGELA DE MÉRICI, Virgem e Fundadora da Companhia das Virgens de Santa Úrsula ou Irmãs Ursulinas.



Contemporânea de Santo Inácio de Loyola, desempenhou papel saliente na luta contra o paganismo da Renascença e a Pseudo-Reforma protestante.


Santa Ângela Mérici veio ao mundo em 21 de Março de 1474, em Desenzano, pequeno porto de pescadores na margem meridional do Lago de Garda (Norte da Itália). Sua família era de agricultores, tendo a Santa nascido em uma propriedade rural. De sua mãe sabe-se apenas seu nome de família: Biancosi, originária da cidade de Salò.
Não frequentou escolas. A ciência consumada, que mais tarde o Espírito Santo lhe concedeu, teve como canal apenas a educação familiar. O chefe de família reunia todas as noites os filhos e os servidores para as orações e para a leitura de alguma passagem piedosa. Ângela demonstrou desde cedo muita sensibilidade por tais leituras e decidiu seguir a via da santidade.
O traço dominante de sua personalidade era uma extraordinária pureza. Desde a mais tenra idade resolveu libertar-se das servidões do corpo por meio de uma intensa mortificação, limitando-se apenas ao necessário. As Virgens, sobretudo as que morreram para defender sua virgindade, ela as amava como irmãs gêmeas. Para Ângela, a virgindade representava o amor exclusivo de Deus, sem qualquer participação de outrem. Jamais imaginou outro destino para sua vida do que a de permanecer virgem para sempre.

Não obstante, era muito bonita e atraente. Aos doze anos, seus belos cabelos louros causavam admiração às suas amigas. Uma delas lhe disse: "Com tal cabeleira, Ângela, não lhe faltarão admiradores nem um bom casamento". Tais palavras, que encantariam qualquer moça, só lhe causaram remorso. Algo nela podia então levá-la por um caminho que, mais que todos, rejeitava? Enrubesceu envergonhada e, mal chegou em casa colocou cinza e fuligem na água fervendo, mergulhando seus cabelos nessa mistura, o que repetiu por vários dias, até que perdessem sua bela cor dourada.
Assim, aos doze anos, sacrifica sua beleza para que nenhum outro olhar caia sobre ela, senão o do Divino Esposo das almas. Naquele mundo em que a corrupção da Renascença era ostentada com despudor e petulância, ela levanta o imaculado pendão da pureza e da virgindade.

As primeiras provações
Aos treze anos, ainda sob o influxo das grandes consolações que recebeu com sua primeira comunhão, uma grande provação a atingiu: o falecimento de seu pai, modelo de homem católico, exemplo de virtudes domésticas e continuador das mais preciosas tradições familiares. Embora muito frequentemente os pais dos santos não sejam lembrados, em numerosos casos eles foram, pelo seu exemplo e pela educação que deram aos seus filhos, verdadeiros instrumentos nas mãos de Deus para a santificação destes. Ângela bem compreendeu o que tinha perdido e chorou a morte do pai. O grande amor que lhe devotava estava todo impregnado de um filial reconhecimento.

Dois anos após, sua mãe também foi chamada à eternidade. Seis anos mais tarde, era a vez de sua irmã deixar esta terra. Deus queria eliminar do coração da jovem até os mais sagrados e legítimos liames terrestres, para que ela se entregasse inteiramente ao seu amor infinito.

Deus lhe anuncia sua missão
No ano de 1506, para atender aos seus anelos, Deus lhe fez conhecer Seu desígnio sobre ela.
Certo dia, quando trabalhava no campo, por volta do meio-dia, separou-se um pouco das jovens que a acompanhavam para rezar sozinha, entre as vinhas. Foi então que Deus lhe favoreceu com uma visão, em que aparecia uma escada que ia do céu à terra, por onde subiam e desciam um número incontável de virgens, alvas, ligeiras, entoando cânticos celestiais, no que eram acompanhadas por anjos, cujos instrumentos enchiam o ar de melodiosas sonoridades. Os sons, as cores, os movimentos se fundiam numa espécie de apoteose da pureza sem mancha, da candura do lírio e da virgindade perfeita. Uma delas se destacou dentre as companheiras. Ângela reconheceu nela uma amiga falecida e esta lhe disse:
"Ângela, saiba que Deus te concedeu esta visão para indicar que, antes de morrer, tu deverás fundar em Brescia uma sociedade de Virgens semelhantes a estas que vês; tal é a disposição da Providência a teu respeito".
Após tais palavras os cânticos e as melodias cessaram, a visão se evanesceu. Ângela havia recebido sua Mensagem. Estava ainda transportada em êxtase, um pouco fora de si pelo que tinha visto, quando suas jovens amigas a encontraram. Por inspiração divina, contou imediatamente a elas a visão que tivera, bem como a missão que recebera de Deus. Maravilhadas pelo relato, todas desejaram segui-la nessa via. Nem por um instante duvidaram da realidade da visão, pois a tinham como santa e sabiam que suas palavras eram fruto de um pensamento calmo e refletido.



Apostolado que transformou uma região
Ângela não conhecia Brescia nem as pessoas que lá moravam. Estava certa, porém, de que a fundação se faria lá, e não em outro lugar. Como não lhe havia sido ordenado abandonar imediatamente sua cidade natal e dirigir-se para a cidade indicada, ela decidiu esperar a ocasião suscitada por Deus para isso.
Essa espera prolongou-se por dez anos, durante os quais sua atividade apostólica se intensificou e se ampliou.
Ângela tinha uma graça natural, uma suavidade sorridente, uma afabilidade constante que lhe bastavam para atrair os corações.


Em Brescia
Assim, durante esses dez anos, um verdadeiro núcleo de discípulos se formou em torno dela. Entre eles, ocupavam lugar de destaque Jerônimo Pentagola e sua esposa Catarina. Moravam em Brescia, mas tinham uma propriedade em Patengo, próximo a Desenzano, onde passavam o verão. Assim conheceram Ângela que, a convite deles, por diversas vezes fez breves estadas em Patengo, para gáudio de seus anfitriões.
Ora, no curso de 1516 os Pentagola perderam seus dois filhos, com breve intervalo entre os falecimentos. Como nada os pudesse consolar em sua imensa dor, pensaram em Ângela, a única que seria capaz de lhes dar nova razão de viver, de tal modo sentiam nela a presença de Deus. Pediram-lhe então, com insistência, que lhes concedesse a graça de sua presença na casa onde moravam.
Foi assim que Ângela se dirigiu a Brescia, cidade designada na visão para ser o local da futura fundação. Apesar de ser bem maior, muito mais movimentada e mais brilhante que Desenzano, a fama de sua santidade lá se difundiu tanto quanto em sua cidade natal ou em Salò.


Ciência infundida pelo Espírito Santo
Um fato extraordinário, evidência da ação do Espírito Santo sobre a alma de Ângela, levou sua fama de santidade ainda mais alto e mais longe. Ela, que nem sequer sabia ler, que ignorava todas as ciências humanas e não havia recebido outra instrução verbal além da matéria constante no catecismo, tornou-se de repente capaz de ler, não somente em italiano, mas também em latim. E mais: tornou-se capaz de comentar a teologia, especialmente a teologia mística, de tal sorte que lia não apenas nos textos, mas nas próprias almas, que desde então foram para ela como livros abertos.
Em vista disso, aos visitantes habituais - as notabilidades e o bom povo de Brescia - se juntaram caravanas de eruditos, teólogos, legistas, diretores de consciência e filósofos. Submetiam-na a minuciosos interrogatórios e nem uma vez caiu ela em erro. Era de admirar a medida e a pertinência dos termos que empregava, a ponderação e a segurança de seu juízo, o equilíbrio e a prudência, enfim toda a sabedoria que dela se irradiava. Todos se admiravam como haviam sido ultrapassados por aquela humilde mulher, cuja ciência infusa superava com facilidade, das alturas da eternidade, o fatigante trabalho de séculos. E essa integridade doutrinária se manifestava precisamente nos mesmos anos em que Lutero lançava seu desafio ao Papa para dividir a Cristandade.
De fato, a torrente luterana engrossava suas águas turvas, dividindo-se em outras torrentes que sulcavam a Europa em todas as direções, inflamando os espíritos a favor ou contra a heresia.
Ao mesmo tempo se desencadeou a guerra entre o rei da França, Francisco I, e o futuro Imperador alemão Carlos V, estendendo-se por todas as províncias italianas do Norte.
O vinho novo da Renascença acende, nos ambientes intelectuais, o orgulho da vida, que se manifesta nas obras literárias e artísticas; e, em todas as camadas da sociedade, um sensualismo triunfante.
Combatendo a Revolução nascente em seu próprio campo, o meio social, e naquilo em que ela mais se esmerou em difundir naquela época, ou seja a revolução nos costumes, Ângela aparece como um autêntico baluarte da Contrarrevolução, opondo ao sensualismo a pureza virginal, e à heresia uma dócil e total submissão à ortodoxia doutrinária.

Em Roma, com o Papa
Empreendeu a Santa uma peregrinação a Roma, por ocasião do ano jubilar de 1525. Na Cidade Eterna tinha por hábito visitar igrejas, e, numa delas, encontrou-se com um dos camareiros secretos do Papa. Ele a tinha por santa e ofereceu-lhe conseguir uma audiência particular com o Papa, o que ela aceitou com alegria.

Deste encontro sabe-se apenas que Clemente VII insistiu com Ângela para que permanecesse em Roma, onde ela poderia dirigir, sob sua égide, obras de caridade. Ângela contou então ao Papa a visão que tivera em 1506 e a missão que recebera de Deus. Convencido da origem sobrenatural dessa missão, o Papa lhe recomendou então que voltasse a Brescia e cumprisse o quanto antes aquilo que Deus lhe indicara.

Em Cremona
Pouco depois de seu regresso, foi obrigada a deixar novamente a cidade, ameaçada de pilhagem em consequência das devastações que a guerra fazia em todo o norte da Itália. Parte então, como refugiada, com seus amigos mais próximos, para Cremona. Mas não se trata da fuga de uma pobre mulher trêmula de medo pelo terror da guerra. Ela permanece em sua posição de anjo tutelar, benfeitora e guardiã. Em meio ao triste êxodo, sua força de alma polariza as coragens, levanta os abatidos, exorciza os malefícios do desespero, consola a todos.
Em Cremona passa-se em torno dela o mesmo que em todas as cidades onde se encontra. Multidões a procuram no lugar onde reside, bem como altas personalidades do mundo religioso e dos meios intelectuais e sociais. O élan das almas para com Ângela redobra de intensidade devido às angústias da guerra. O próprio duque Francesco Sforza, de Milão, também refugiado em Cremona, continua a receber de Ângela a direção espiritual iniciada pouco antes em Brescia, e da qual estava muito necessitado, devido à difícil situação em que se encontrava como consequência da guerra.

Com a paz assinada em Cambrai, em 23 de Dezembro de 1529, e Carlos V sagrado Imperador pelo Papa Clemente VII, Ângela pôde voltar a Brescia.


Novamente em Brescia: a fundação
Ela sente então que se aproxima a hora de cumprir o que lhe fora indicado na visão. A muitos poderia parecer exagerado o tempo decorrido entre o anúncio da missão e seu cumprimento: 24 anos (1506-1530). E talvez julgassem ter havido negligência da parte de Ângela. Porém, se atentarmos às palavras da amiga, veremos que a mensagem divina não exigia o cumprimento imediato. Muito pelo contrário, era algo a ser realizado "antes de morrer", ou seja, a fundação se daria já no fim de sua vida.
Assim, naquele ano de 1530, reuniu, no pequeno aposento onde residia, as doze moças por ela escolhidas para serem o núcleo original da Companhia de Virgens que tinha por missão fundar. Explicou-lhes que elas não estavam destinadas a fazer parte de uma obra pia qualquer, mas a permanecerem virgens para sempre, por meio de um culto especial à virgindade cristã, constituindo tal chamado uma vocação muito especial.

O objetivo inicial da Fundadora
Cabe aqui uma interrupção no relato dos fatos para realçar um aspecto totalmente novo da referida congregação. É a ausência de vida em comum. Ângela não procurou um lugar onde pudesse instalar um convento para aí residir com suas religiosas, mas apenas um local onde pudesse reunir-se com elas, dar-lhes as orientações adequadas e fazer certas orações em comum. Elas continuavam a residir em suas próprias casas, no mundo, para que aí dessem um testemunho eloquente de uma virtude tipicamente contrarrevolucionária, a pureza, em combate direto contra a dissolução dos costumes, característica do neopaganismo renascentista.
Suas filhas não seriam religiosas de clausura, mas deveriam elevar-se como torres de marfim no meio do charco, pela prática de uma pureza ilibada e virginal, mostrando como uma das molas mestras da Revolução, a sensualidade, pode e deve ser vencida em seu próprio reduto, o mundo (*).
Em 25 de Novembro de 1535 já havia 27 virgens reunidas em torno de Ângela. No ano seguinte ela submeteu a Regra da nova sociedade ao Cardeal Francesco Cornaro, bispo de Brescia, que a aprovou em 8 de Agosto de 1536.


Superiora Geral
Como era esperado, Ângela foi eleita por unanimidade para Superiora Geral, apesar dos protestos que sua humildade lhe suscitava. Suas filhas, naturalmente, não cederam a tais protestos, mas foi necessária uma ordem formal do Cardeal-Bispo de Brescia para que ela aceitasse o cargo.
Sua humildade, porém, fez mais duas exigências: a de não ser apontada como Fundadora no ato notarial que registrou a decisão do Capítulo, e a de colocar o novo instituto sob o patrocínio de Santa Úrsula. Ela esperava assim ver seu nome desaparecer da própria obra, substituído pelo da gloriosa padroeira, virgem e mártir.
Até sua morte, ocorrida em 1540, Ângela continuou a ser um modelo perfeito de santidade para suas filhas espirituais.

"Ao me obedecer, obedecereis a Jesus Cristo"
Em Janeiro de 1540, após ter indicado a condessa Lucrécia Lodroni como sua sucessora e reunido em torno de si as 150 virgens que formavam sua Companhia, entregou a alma ao Criador, não sem antes recomendar expressamente a suas filhas: "Obedecendo a vossas superioras é a mim mesmo que obedecereis; e, ao me obedecer, obedecereis a Jesus Cristo, cuja misericordiosa bondade me escolheu para ser, viva ou morta, a Mãe desta Companhia, ainda que, de mim mesma, fosse muito indigna disso".
Partiu assim para a eternidade e para a glória celeste a Fundadora da Companhia das Virgens de Santa Úrsula.
Não é por mera coincidência que, enquanto Santo Inácio de Loyola designava a ordem que fundara como Companhia de Jesus, para indicar seu caráter militante, Santa Ângela Mérici dava ao seu instituto o nome de Companhia, para indicar igualmente seu aspecto militante contra o sensualismo renascentista.

Disputando a honra de sepultá-la
A notícia de seu falecimento espalhou-se rapidamente por toda a região, levando seus habitantes a se moverem em legiões para contemplá-la ainda uma vez antes de seu sepultamento.
Finalmente, em 28 de janeiro de 1540, realizou-se o sepultamento na igreja de Sant'Afra, indicada pelas autoridades religiosas. Nessa ocasião, durante três noites consecutivas apareceu no céu uma estrela de brilho extraordinário, cujos raios convergiam para o ponto onde estava o corpo.


Existe um aspecto de sua personalidade espiritual que nos é ainda pouco conhecido e no qual fica bem evidenciado o caráter profético e contrarrevolucionário de sua contemplação e de sua ação. Esse aspecto torna-se claro mediante a regra que elaborou para sua ordem, bem como através de seu testamento e suas lembranças.
Tais documentos nos apresentam uma santa que discernia as vias de Deus sobre o mundo, contemplava a luta entre o bem e o mal, conhecia e denunciava a ação do poder das trevas nas pessoas e na sociedade. Mas também que apontava e utilizava os meios de luta mais adequados visando combater tal poder, segundo os desígnios de Deus para a época. Enfim, agindo no presente, tinha os olhos continuamente postos no futuro!


Roberto Alves Leite

Um comentário:

CENTRO SOCIAL SANTA ÚRSULA disse...

Parabéns pelo belo trabalho e história de nossa fundadora Sta. Ângela

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