Páginas

Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

domingo, 20 de julho de 2014

Beatos Manuel Gómez González, presbítero, e seu coroinha Adílio Daronch, mártires.


Padre Manuel Gómez González

O Padre Manuel Gómez González nasceu em São José de Ribarteme, Puenteareas, na província de Pontevedra na Galícia, em território espanhol.
Os habitantes da localidade dedicavam-se à agricultura, especialmente à cultura de videiras. A população era pobre, habitando antigas casas de pedra, herdadas de seus ancestrais. Não havia indústrias e o comércio também tinha pouca vitalidade e parcos eram os meios de comunicação.
Ribarteme distava muito das cidades maiores da região. A paróquia fazia parte da diocese de Túy e sua população era igualmente pequena.
Seus pais, José Gómez Rodrigues e Josefa González Duran, eram agricultores modestos. Seu primeiro filho foi Manuel, que recebeu o batismo no dia seguinte ao do nascimento, a 30 de maio de 1877.
A família de Manuel, segundo o testemunho do próprio pároco, era bem considerada por suas virtudes morais, cívicas e religiosas. O espírito religioso da família despertou no menino Manuel, a vocação para o sacerdócio.
Não é de estranhar, quem num ambiente tão piedoso, surgisse uma vocação religiosa, como foi a do jovem Manuel, que ainda criança foi crismado na igreja de Santiago de Ribarteme, por Dom João Maria Babero, bispo de Túy.
Precocemente, como decorrência do ambiente cristão em que vivia, Manuel sentiu o chamado da vocação sacerdotal. Depois de sua primeira comunhão, ingressou no seminário Diocesano de Túy.


O Beato Adílio foi um dos
patronos da Jornada Mundial da
Juventude no Rio/ 2013
 O coroinha Adílio Daronch

A família de Adílio Daronch veio da Itália na leva dos imigrantes italianos que ingressaram no Brasil a partir de 1875. Eram seus avós Sebastiano Daronch e Francesca Schena, que aqui chegaram em 1890. Pedro, o pai de Adílio também era italiano, nascido em Agordo, terra natal de Albino Luciani, que viria a ser o papa João Paulo I, em 05 de janeiro de 1883, portanto contava 07 anos quando veio para o Brasil.
A família Daronch partiu do porto marítimo de Gênova, possivelmente embarcados no navio Savoie, tendo chegado ao Rio de Janeiro em 01 de dezembro de 1890. No Rio Grande do Sul, a família adquiriu o lote no 519, do Núcleo Soturno, em Linha 11, no atual município de Nova Palma, onde se dedicaram ao cultivo da terra e criação de animais domésticos. Pedro, aos dezoito anos, deixou a casa paterna como aprendiz de sapateiro e seleiro, casando-se a seguir com a senhorita Judite Segabinazzi, a 15 de janeiro de 1905.
O casal foi morar em Dona Francisca, então 5º distrito do município de Cachoeira do Sul. Adílio nasceu ali, em 25 de outubro de 1908. Foi o terceiro filho do casal Pedro e Judite. Foi batizado em 1º de novembro desse ano, pelo padre Germano Schrör tendo sido seus padrinhos, o Sr. Alexandre Socal e a Sra. Rosa Martini.
Em 1912, a família de Pedro Daronch transferiu-se para o município de Passo Fundo, onde Pedro atuou como fotógrafo. Passados alguns anos, transferiu-se novamente e agora para Nonoai, continuando como fotógrafo e mantendo uma loja e uma pequena farmácia homeopática. Pedro gozada de bom conceito junto à comunidade de Nonoai e Dona Judite era apreciada pela sua bondade.
A família Daronch se destacava na prática da caridade e colaborava muito com o Padre Manuel, ajudando-o nas missas e nas cerimônias litúrgicas e religiosas.
Desde cedo Adílio manifestava predileção pelas coisas da igreja e gostava de servir o padre como coroinha e ajudante em geral. Feita a primeira comunhão, começou a auxiliar no serviço do altar. Por sua vez, o Padre Manuel era, com frequência, hóspede da família Daronch e lá muitas vezes fazias suas refeições.
Adílio era um menino alegre, embora de temperamento um tanto reservado, gostava de futebol e desde pequeno se manifestava pela sua liderança inata, ponteando os jogos e orientando os colegas na condução das diversões, porém, não descurava o serviço de acólito por causa dos folguedos. Levava muito a sério sua missão. Com o passar do tempo, acompanhava o Padre Manuel pelo interior, troteando em seu burrinho, ao lado do seu protetor e mestre.
O pai do jovem Adílio falecera em 05 de maio de 1923, traiçoeiramente assassinado, no município de Marcelino Ramos, em disputas entre maragatos e chimancos, que a partir de 1923 tomaram vulto e se alastraram por toda a parte, como integrante nas fileiras dos combatentes, deixando a esposa com seus sete filhos, todos menores.
Como não podia deixar de ser, a viúva de Pedro e seus filhos, após o triste acontecimento, tiveram o apoio decisivo do pastor e amigo Padre Manuel, que os confortou e acompanhou nessa triste etapa de suas vidas.
Após a morte do chefe da família Daronch, as dificuldades cresceram e o grupo familiar se dispersou, cada qual seguindo seu caminho, em diversas direções e Dano Judite mudou-se para o município de Dona Francisca, aonde veio a falecer, a 23 de março de 1932.
O fim do coroinha Adílio será considerado mais adiante, quando na companhia do Padre Manuel, veio a sofrer o martírio de forma cruenta, em Três Passos.


Unidos na fé, no amor a Deus, 
na fidelidade ao Cristo e na coroa
do martírio.
O martírio dos servos de Deus

No exercício de seu ministério sacerdotal e pastoral naquela região conflituosa, Pe. Manuel sabia do perigo que enfrentava. Não foi nada fácil como ele próprio expressa numa de suas cartas, datada há 11 de janeiro de 1916, a Dom Miguel Lima Verde, bispo de Santa Maria: "Com bastante dificuldade terei que lutar, mas tudo desaparecerá com a ajuda de Deus” (Carta ao Bispo de Santa Maria, D. Miguel de Lima Valverde, datada de 11 de janeiro de 1916). Pe. Manuel refere-se ao contexto histórico da Revolução de 1923.

Enio Felipin e Teresinha Derosso, em recente publicação, descrevem esse cenário com detalhes: "O Rio Grande do Sul viu seu chão, manchado pelo sangue de homens, tombados pela cruel Revolução de 1893, que teve como marca a degola, dilacerando vidas e trazendo desgraça e tristeza para muitas famílias. Essa Revolução deixou sentimentos de vingança e violência em muitos corações, que teve quase continuidade na Revolução de 1923, ocorrendo nesta, muito banditismo misturado às causas do combate. Homens violentos e vingativos, sem seleção alguma, integravam os corpos provisórios da infantaria, espalhando a morte e o terror por onde passavam... A região norte do Estado, o Alto Uruguai, foi a primeira a sofrer pela revolução, por anos de sangue, saques e baixas vinganças. As cidades de Passo Fundo e Palmeira das Missões foram atacadas pelos caudilhos Mena Barreto e Leonel da Rocha. O general Fermino de Paula defendeu Passo Fundo e o general Valzumiro Dutra defendeu Palmeira. Eram maragatos e chimangos promovendo cenas de sangue, fazendo o povo sofrer muito. Até o padre Manuel Roda, pároco de Palmeira, sofreu perseguições pelos revolucionários, retirando-se para a Argentina" (DEROSSO, Teresinha e FELIPIN, Enio. Mártires da Fé: Pe. Manuel Gómez Gonzalez e Coroinha Adílio Daronch.Gráfica e Editora Pluma, 2003, pp. 22-23)

Em 1924, devido à vacância da Paróquia de Palmeira das Missões, o Bispo de Santa Maria, determinou ao Pe. Manuel para atender os cristãos do sertão do Alto Uruguai.
Lá foi ele com a missão de batizar, celebrar casamentos e primeiras comunhões, e catequizar o povo daquela vasta região, mas sabendo do perigo que devia enfrentar. Noutra carta expressa sua angústia: "Devido ao meu estado de saúde, a anormalidade deste município e não havendo garantias de vida, por estar toda esta zona desde Nonohay até Palmeira em poder dos revolucionários... e temendo ser agredido na estrada... ou ficar de a pé, suplico a Vossa Excelência Reverendíssima, humildemente me dispense deste cargo ao menos enquanto durar este estado anormal..." (Carta ao Bispo de Santa Maria, datada há 08 de agosto de 1923). Encorajado pela fé pôs-se à missão.


"Chão Sagrado" - Local do Martírio

Foi a caminho dessa missão e numa perseguição pelas comunidades de colonos, próximo de Três Passos, distante 250km de Nonoai, sua paróquia, que Pe. Manuel e seu coroinha Adílio caíram numa emboscada armada por soldados provisórios.
Nas proximidades de um matagal em lugar ermo em que se encontravam, os facínoras os apearam de suas montarias, os conduziram para o interior do mato, onde foram atados a árvores. E a seguir mortos sumariamente, com tiros de armas de fogo: dois tiros no sacerdote e três tiros no menino de 15 anos. Era dia 21 de maio de 1924
Perpetrada a dupla criminosa chacina, os assassinos impiedosos roubaram das vítimas o que puderam, inclusive suas montarias e voltaram para o Alto Uruguai.
A comunidade de Três Passos aguardou ansiosa pela chegada do padre Manuel e do seu auxiliar Adílio, durante horas, mas em vão, imaginando que o sacerdote tivera contratempos ou que tivesse ido atender a algum chamado urgente de outra localidade intermediária. No dia seguinte ao atentado macabro, começaram as buscas. Informados pelo dono do bolicho onde haviam pernoitado, sobre o possível local em que poderiam ser encontrados os dois viajantes, foram conduzidos ao capão de mato, onde se depararam com a tétrica cena do massacre.
Releva salientar, que apesar de terem percorrido tantas horas após a morte dos mártires, os corpos ao serem encontrados, estavam preservados e não haviam sido sequer tocados pelos animais da floresta, então densa e repleta de feras e não apresentavam nenhum outro sinal de violência, além da perpetrada pelos vis assassinos.

Manuel, homem de fé, com bondade e paciência, soube exercer seu trabalho pastoral. Reativou o apostolado, realizou um fecundo trabalho com as crianças, abrindo uma escola gratuita. De espírito humanitário trabalhou pelo bem da cidade e do seu povo: constrói uma olaria, hotel e, com a ajuda da comunidade, construiu casas para os sem-teto de Nonoai. De preocupação inovadora, introduziu o cultivo de novos produtos junto aos agricultores de sua região. Incansável propagador da paz fez ecoar sua voz por todos os cantos: "Peço a Deus que isto que se está dando em nosso Estado cesse quanto antes e venha uma paz para ambos os partidos".(Carta ao Bispo de Santa Maria, D. Atico Eusébio da Rocha, datada de 18 de julho de 1923).

Adílio, testemunho leigo, deixou-se seduzir pelo Senhor e colocou-se a serviço de seu Altar redentor. Vítima inocente de uma época de violências mostrou sua coragem e sua fé. Um exemplo de zeloso cuidado com as coisas de Deus. Nele nossos adolescentes e jovens devem buscar a inspiração para seus ideais.

E, por fim, poderíamos dizer que "destruíram os corpos, mas continua a seiva viva do testemunho a correr nas pessoas que conheceram e que creem no projeto dos dois ‘mártires’".



Raras fotos dos beatos

Exéquias e fama de santidade dos mártires

Levados os corpos dos mártires com sentida aflição e desconsolo dos amigos e fiéis, foram sepultados com grande acompanhamento em Três Passos. No local do martírio, foi construída uma capela, para onde começaram a acorrer em seguida e de forma crescente, devotos, peregrinos e romeiros, com a finalidade de pedir favores e agradecer pelas graças alcançadas.
O local do sepultamento tornou-se então um centro devocional, atraindo pessoas de muitas localidades e dando origem à romaria, que ora se realiza todos os anos, no terceiro domingo de maio, em Nonoai, para onde foram transladados os restos mortais dos dois mártires, sepultados ao lado do Santuário de Nossa Senhora da Luz, num complexo de visitação de fiéis, que ali ocorrem, deixando seus ex-votos em sala contígua, em razão das graças alcançadas.
Em Três Passos, Terra Sagrada onde aconteceu o martírio, desde 1993, é realizado no último domingo de maio a Romaria onde os fiéis saem em caminhada da frente da igreja matriz Santa Inês, percorrendo 5 km até a localidade do Feijão Miúdo, local onde aconteceu o martírio, hoje denominado Parque do Santuário dos Beatos Mártires do Rio Grande do Sul.


Romaria ao Santuário

Crescendo a devoção aos mártires da fé, que foram sacrificados no cumprimento do ministério da evangelização e constatadas tantas graças alcançadas por seu intermédio, foi encaminhado a Roma o processo de beatificação dos mártires rio-grandenses, em setembro de 1988, por iniciativa do então bispo da diocese de Frederico Westphalen, Dom Bruno Maldaner.
No dia 13 de fevereiro de 2001, a Causa da Beatificação foi aprovada por unanimidade, pela Comissão de Consultores Históricos, presidida pelo relator Geral, Frei Ambrogio Eszer.


Missa de Beatificação

Em 21 de outubro de 2007, na cidade de Frederico Westphalen, sede da diocese, foi realizada missa de beatificação. Além de ser a primeira beatificação realizada no Rio Grande do Sul, Adílio Daronch é o primeiro gaúcho e o primeiro coroinha do mundo a ser beatificado.


Beatos Manuel e Adílio, rogai por nós e por toda a Igreja
Católica no Brasil! Rogai pelos jovens e pelas famílias! 

Oração

Nas Tuas Santas Mãos, ó Pai de Amor e de Misericórdia, colocamos a nossa vida. Nós te suplicamos poder contemplar a cruz de Teu Filho como os Bem-aventurados Manuel e Adílio o fizeram.
Que sejamos tuas fiéis testemunhas até o fim. Que a fé em Ti nos encoraje a enfrentar todas as dificuldades da vida e que um dia estejamos em comunhão contigo na Unidade do Espírito Santo. Amém.


Oração pela Canonização


Ó Deus de bondade, que Vos comprazeis de acudir às necessidades de vosso povo em atenção aos méritos dos justos, concedei-nos, por intermédio de vossos Beatos Manuel e Adílio, a graça que Vos pedimos, pois eles foram fiéis na terra, testemunhando com o próprio sangue sua fé no Redentor.

Fazei que, para vossa maior glória e proveito dos fiéis, sejam glorificados na terra com a honra da canonização. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

Um comentário:

Postar um comentário