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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Beata Rita Amada de Jesus, Virgem e Fundadora


Filha de camponeses, predestinada a uma grande missão, sua vida foi uma contínua luta sob o lema: "Tudo acaba neste mundo, apenas a eternidade não acaba".


Nasceu ela em 05 de março de 1848, na aldeia portuguesa de Ribafeita, Diocese de Viseu, filha de camponeses abastados e bons católicos.


O ódio do inferno já se manifesta contra a criança...
Um episódio assustador, ocorrido apenas cinco dias após seu nascimento, deixa entrever quanto o poder infernal pressentia o prejuízo que essa menina causaria, com sua santa vida, à obra do mal.
Estando deitada com ela, sua mãe viu apagar-se de modo inexplicável a vela do quarto e notou que "alguém" mexia na roupa de cama, puxando sua filhinha para um lado. Ela puxou em sentido contrário e pediu socorro, dizendo que o demônio queria levar sua filhinha. Acorre prontamente sua tia, cuja entrada fez cessar a maléfica ação do misterioso personagem.
Logo em seguida, desatou-se uma tempestade tão furiosa que parecia levar pelos ares todas as telhas da casa. E, no mesmo instante, Rita foi atingida por uma estranha doença, obrigando seus pais a apressar a hora do seu Batismo, receosos de que ela falecesse a qualquer momento. Ela, porém, recuperou-se e começou seus primeiros passos na vida.


Rica em virtudes e em qualidades humanas
Nesse piedoso lar fazia-se leitura espiritual e rezava-se o terço toda noite. Assim, bem cedo, começou ela a ter devoção a Jesus Sacramentado, a Nossa Senhora e a São José, além de um grande carinho pelo Papa, na época, o Beato Pio IX. Ouvindo a narração da vida dos santos, queria imitá-los em suas mortificações. Naquele coração infantil abraçavam-se a oração e o desejo de penitência, de ser "como as freiras no convento".
Crescia assim a pequena Rita, rica em qualidades humanas e, mais ainda, em virtudes e piedade. Com o correr do tempo, foi revelando um temperamento ativo e prático, a serviço de sua alma apostólica. Antes mesmo de completar 18 anos, andava de aldeia em aldeia, reunindo os habitantes na pequena igreja local. Ensinava-lhes a rezar o terço, dava aulas de Catecismo e procurava reconduzir ao bom caminho as pessoas de vida dissoluta. Muitas vezes, conseguia que sua mãe acolhesse no lar paterno uma ou outra infeliz moça decaída, com o objetivo de facilitar-lhe a mudança de vida. Causa admiração ver como, ainda tão jovem, correspondia já com ardor à importante missão para a qual Deus a chamava: acolher e amparar moças em estado de degradação ou de risco moral.


Defesa da castidade
Dois episódios narrados em sua autobiografia dão eloquente testemunho da caridade e da energia dessa donzela que, em situações de perigo, recorria à Mãe Castíssima e obtinha prontamente forças muito superiores à frágil natureza feminina.

"Em certa ocasião - narra ela em seu estilo lusitano - andava eu a apanhar maçãs e já ia anoitecendo. De repente, senti que braços fortes de um homem me seguravam pelas costas. Chamei por Nossa Senhora que me desse forças para vencer aquele demônio, e no mesmo instante Ela me deu tantas forças que o deixei quase morto e nunca mais ele voltou a ter saúde. Ainda tive escrúpulos por deixá-lo naquele estado. Mas eu antes queria morrer que perder a angélica virtude."
Noutra oportunidade, andava ela com uma moça sua amiga. Quando, por uma circunstância qualquer, estavam um pouco distantes uma da outra, Rita ouviu sua companheira gritar, pedindo socorro. Correu logo e viu que um indivíduo a tinha agarrado, com os piores intuitos, e outro, armado de revólver, vinha atrás dela demonstrando as mesmas más intenções.
Arrancando uma estaca de uma vinha, prostrou ao chão quase sem vida o depravado que assediava sua amiga, depois enfrentou a pedradas o outro até este se decidir a fugir sem fazer uso da arma que tinha na mão.


Vocação e carisma
Desde muito cedo a jovem Rita sentia o apelo da vocação a uma vida inteiramente consagrada a Deus. Porém, nessa época a situação em Portugal era de forte oposição à Igreja. O governo anticlerical tinha se apoderado dos bens eclesiásticos, fechado todas as casas religiosas masculinas, e proibido a admissão de qualquer noviça nas casas femininas.
Viu-se ela, portanto, forçada a continuar no mundo. Fazia a Comunhão Reparadora, crescia no fervor eucarístico, na devoção ao Sagrado Coração de Jesus e no forte desejo de salvar almas, e procurava ser cada vez mais missionária e apóstola. Recusou peremptoriamente as vantajosas propostas de casamento que lhe foram feitas, pois já era religiosa no seu íntimo.
Mas, somente aos 29 anos, ingressou ela na Congregação das Irmãs de Caridade, no Porto, única instituição religiosa que, pelo fato de ser estrangeira e se dedicar à assistência social, era então permitida no país. Entretanto, o carisma dessa congregação francesa não a satisfez. Ela desejava educar meninas e moças pobres e abandonadas, com vistas a preservá-las ou convertê-las, e não apenas a lhes dar assistência material.


Funda o Instituto Jesus Maria José
Procurando dar os primeiros passos nesse sentido, algumas contrariedades e não poucas dúvidas levaram-na a se fazer a pergunta que surge a todos os fundadores: qual é a vontade de Deus?
A resposta não tardou a vir. Andava ela pela região, pedindo esmolas para suas obras de caridade, e alojou-se numa casa onde residia um menino de cinco anos, cego e mudo de nascimento. Ela própria relata o acontecido: "Pedi a Deus Nosso Senhor que, se a fundação da obra fosse do agrado d'Ele, permitisse que aquele menino tivesse vista e fala. Assim eu conheceria melhor a sua santíssima vontade. Depois de vir embora, uma pessoa veio contar-me que o menino já via e falava. Após isto, Deus Nosso Senhor deu-me tanto fervor nesta obra que já não se me punha diante contradição nenhuma".
Lançou-se, assim, com decisão à obra querida pela Providência e em pouco tempo a ela se uniram diversas companheiras animadas pelo mesmo ideal. Os primeiros tempos foram recheados de grandes dificuldades, chegando por vezes a faltar-lhes até o alimento de cada dia.
Ajudada por suas irmãs de vocação, Rita começou a pedir contribuições para fundar um colégio. Seus esforços foram coroados de êxito. No dia 24 de setembro de 1880, fundou em Gumiei, Portugal, o primeiro Colégio, no qual acolheu cerca de 50 meninas, algumas internas, outras externas. Foi este o marco inicial da grande obra: o Instituto Jesus Maria José. A Fundadora tinha então 32 anos.


Expansão em meio às dificuldades
O clima político em Portugal continuava muito desfavorável à Igreja. As autoridades civis impunham toda sorte de restrições e de empecilhos à ação das instituições religiosas. Da mesma forma como ocorreria quase 40 anos depois com os pastorinhos de Fátima, a Madre Rita foi constrangida a comparecer perante o Administrador de Viseu, o qual lhe fez uma áspera arenga, dizendo, em resumo, o seguinte: este município não tem necessidade alguma de missionários, seria melhor vocês irem para a África; o que vocês estão fazendo é obra dos padres, os quais lhes metem essas ideias na cabeça.
A Madre respondeu com desassombro que essas ideias lhe tinham sido inspiradas por Deus e, portanto, nem "quantos homens há no mundo e quantos demônios há no inferno" seriam capazes de tirá-las.
À vista dessa fé inabalável, o Administrador desistiu... Por essa vez. Várias outras tentativas como essa foram feitas, com o objetivo de intimidar e levar ao desânimo Rita e suas irmãs de congregação. Todas, porém, resultaram igualmente inúteis.

Ajudadas pela Divina Providência, em pouco tempo elas estenderam para outras dioceses sua benéfica ação apostólica. Nas cidades de Viseu, Lamego e Guarda as autoridades municipais procuraram por todos os meios obrigar Madre Rita a encerrar a Obra. A esses obstáculos vieram somar-se incômodas dificuldades econômicas e, pior ainda, problemas internos criados por uma de suas religiosas. Nada disso, porém, impedia o Instituto de continuar expandindo-se rapidamente. Em maio de 1902, ele recebeu a aprovação pontifícia.



Extinto em Portugal, renasce no Brasil.
Esse promissor progresso foi interrompido em 1910 por uma nova revolução em Portugal. O governo recém-instalado desencadeou feroz perseguição contra a Igreja, ordenou o fechamento de todas as casas religiosas e apoderou-se dos bens do Instituto.
No meio da borrasca, Madre Rita agiu com sua costumeira energia e clarividência. Refugiou-se em Ribafeita, sua terra natal, onde conseguiu reagrupar numa humilde casa várias das irmãs dispersas. Dali, com a ajuda do Bispo Dom Manuel Damasceno da Costa, conseguiu enviar algumas delas para o Brasil. Com isso, pôde garantir a continuidade do Instituto cuja fundação e crescimento lhe haviam custado tantos sacrifícios.
À medida que ia reunindo suas filhas, a santa Fundadora as enviava para o Brasil. Assim, pode-se dizer que o Instituto Jesus Maria José, extinto brutalmente em Portugal, renasceu e fortaleceu-se no Brasil, onde hoje conta com algumas dezenas de casas espalhadas por vários Estados deste imenso território. Aqui suas filhas espirituais encontraram campo propício para fazer o bem segundo o carisma próprio de sua congregação.
Em 1935 o Instituto pôde ser reaberto também em Portugal.

 


Glorificação no Céu e, agora, na terra...
Esse novo surto de progresso de sua Obra, Madre Rita não o viu nesta terra. Depois de uma breve enfermidade, ela expirou a 06 de janeiro de 1913, num casebre emprestado por benfeitores, confortada pelos últimos sacramentos da Igreja e ancorada na certeza de, pela infinita misericórdia de Deus, colher o prêmio eterno a que tanto havia ansiado.
Sua beatificação é um estímulo a recorrer à sua intercessão, imitar seus exemplos e, de modo especial, gravar no fundo da alma o lema que ela deixou exarado em muitos de seus escritos: "Tudo acaba neste mundo, apenas a eternidade não acaba".

(Revista Arautos do Evangelho, Abril/2005, n. 40, p. 32 a 34).





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Texto Biográfico do Site do Vaticano
Rita Amada de Jesus viu a luz do dia a 05 de Março de 1848 num pequeno povoado da paróquia de Ribafeita, Diocese de Viseu –– Portugal. Com muito poucos dias de idade recebe o baptismo e foi-lhe dado o nome de Rita Lopes de Almeida. Cresceu num ambiente familiar muito piedoso onde à noite se fazia leitura espiritual e, desde criança, manifestou ela mesma uma especial devoção por Jesus Sacramentado, por Nossa Senhora, por S. José e carinho pelo Papa que, por essas alturas vivia vida atribulada, a ponto de se ver exilado e, poucos anos depois espoliado dos Estados Pontifícios.

A maçonaria, que em Portugal, na década de trinta se apoderou dos bens eclesiásticos, mandara encerrar todas as casas Religiosas masculinas e nas femininas proibia a admissão de qualquer Noviça, concorreu para o cristianismo perder alguma vitalidade. Além disso, muitos bispos e até sacerdotes descuravam seus deveres, pelas constantes lutas políticas em que se viam envolvidos.
No lar desta jovem todos, a começar pelos pais, sentia-se a ânsia de uma autêntica vivência cristã e desejo de a comunicar a outros. Deus fez nascer nela a vocação missionária para arrancar os jovens do indiferentismo, dos perigos morais e exercer apostolado entre em prol da família. Chegou a andar de aldeia em aldeia a rezar; e ensinava a rezar o terço e espalhar a vontade sincera de imitar Nossa Senhora. Encontrava pessoas de vida menos exemplar e fazia tudo quanto estava ao seu alcance para que Nosso Senhor as arrancasse do mal e as trouxesse ao bom caminho. Não tardaram ameaças de morte e até houve um homicídio frustrado.
À oração juntou a penitência. Nas vindas a Viseu, começou a contactar as Irmãs Beneditinas do Convento de Jesus e conseguiu delas alguns “instrumentos de mortificação”. Cedo deu conta, juntamente com seu confessor, que Jesus a chamava à vida de consagrada, numa época impossível pelas leis ainda vigentes que proibiam admissões de Noviças. Rita continuava no mundo, entregue ao apostolado, às mortificações, esperançada de que haveria de alcançar a consagração total a Deus e rejeitando peremptoriamente pretendentes, alguns deles ricos, porque no seu íntimo já era “consagrada”. Fazia a Comunhão Reparadora; crescia no fervor eucarístico, na devoção ao Sagrado Coração de Jesus e no forte desejo de salvar almas, tornando-se missionária e apóstola. Comungando no apostolado de Rita, os pais chegaram a albergar em sua casa mulheres desejosas de conversão e de mudar de atitudes e comportamentos morais com que tinham contribuído para a destruição de famílias.
Com cerca de 20 anos viu que era imperioso consagrar-se a Deus na Vida Religiosa. Confidenciava muito com sua mãe e o pai, embora muito piedoso, por sentir por aquela filha uma oculta predileção, opunha-se a este desiderato. Porque importa obedecer mais a Deus que aos homens, Rita não esmoreceu e finalmente aos 29 anos conseguiu entrar num convento de Religiosas, a única Congregação permitida em Portugal por ser estrangeira e se dedicar apenas à assistência. Ao confrontar o carisma daquelas Irmãs com o que lhe ia na alma, deu conta que não se coadunava com o género de apostolado para que se sentia inclinada. O Director Espiritual da Comunidade a quem se abria inteiramente verificou ser vontade de Deus a respeito daquela Aspirante: recolher e educar meninas pobres e abandonadas. Rita deixou aquelas Religiosas de origem francesa e, ainda de acordo com o Revº P. Francisco Pereira S.J., procurou meios de melhor se preparar para futuro e urgente desempenho da sua especial missão. Deu entrada num colégio onde pôde aprender ao vivo como lidar com as exigências estatais e religiosas.
Rita, humanamente rica de predicados e virtudes, profundamente piedosa, levada pelo desejo de cumprir a vontade de Deus a seu respeito, deixando-se guiar pelo Director Espiritual, ao sair do Colégio, aos 32 anos, conseguiu vencer as dificuldades de natureza política e até religiosa para fundar a 24 de Setembro de 1880, na paróquia de Ribafeita, um colégio e simultaneamente o Instituto das Irmãs de Jesus Maria José, seguindo o lema da Sagrada Família de Nazaré. Em breve espaço de tempo, estendeu a Obra de apostolado a outras Dioceses de Portugal; mas nas Dioceses de Viseu, Lamego e Guarda as autoridades políticas concelhias procuraram por todos os meios obrigá-la a encerrar a Obra. Não lhe faltaram também dificuldades económicas e ainda internas com uma das suas religiosas. Porém, em Portugal no ano de 1910 a implantação da República desencadeou perseguição feroz contra a Igreja, apoderou-se dos bens que o Instituto possuía, aboliu novamente as Ordens Religiosas e Madre Rita teve que se refugiar na terra natal. Daqui conseguiu localizar algumas Irmãs dispersas, aos poucos reagrupá-las numa humilde casa e pôde salvar o Instituto, enviando-as depois em grupos para o Brasil.

Lá continuaram o carisma da Fundadora que faleceu em Casalmendinho (paróquia de Ribafeita) a 06 de Janeiro de 1913, em odor de santidade, confortada pelos últimos Sacramentos. O funeral para o cemitério paroquial, presidido pelo Vigário Geral da Diocese foi antes uma ação de graças pelo dom desta Religiosa à Igreja e ao Mundo.

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