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sábado, 11 de junho de 2016

SÃO BARNABÉ, APÓSTOLO



Membro destacado da Igreja apostólica, inflamado de zelo pela conversão dos pagãos.
 (por Plínio Solimeo)
Nos primeiros dias da Igreja o fervor dos cristãos era tão grande, que eles renunciavam a seus bens, colocando-os à disposição dos Apóstolos para que os utilizassem em proveito de todos: “Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade” (Atos 4, 35). Sem ser obrigatória, esta prática se tornava possível devido ao pequeno número de fiéis. Com o crescimento da Igreja, ela continuou a florescer nas ordens religiosas.

Entre esses generosos cristãos destacava-se um, pelo que é nomeado por São Lucas: “Assim José – a quem os Apóstolos deram o sobrenome de Barnabé que quer dizer filho da consolação –, levita natural de Chipre, possuía um campo. Vendeu-o e trouxe o valor dele e depositou-o aos pés dos Apóstolos” (At 4, 36-37).

Segundo tradição oriental Barnabé se radicou em Jerusalém, e tendo ouvido Nosso Senhor pregar no Templo, tornou-se admirador de sua doutrina. Por seu zelo e conselhos, mereceu ser chamado Apóstolo, apesar de não ser dos 12. Era grave e afável, com amplidão de vistas e chama profética, e, sobretudo, como diz São Lucas, “homem bom e cheio do Espírito Santo” (At 11, 24).

Por tais predicados, São Barnabé tornou-se muito considerado naqueles tempos da primavera da fé. Seu porte devia impressionar, pois mais tarde os pagãos o tomaram por Zeus, o pai dos deuses entre os gregos.

Quando o recém convertido São Paulo procurou os Apóstolos em Jerusalém, eles tentaram evitar sua presença, pois ninguém podia crer que esse perseguidor de cristãos se tornara agora um deles.

Segundo a tradição, São Barnabé – a quem São Paulo deve ter narrado todos os pormenores de sua conversão – conhecera o Apóstolo dos Gentios na escola de Gamaliel.

E convencido da sinceridade de seu ex-condiscípulo, serviu-lhe de “anjo da guarda”. Conduziu-o e apadrinhou-o junto a São Pedro e São Tiago, pois além desses, diz São Paulo, “não vi nenhum outro Apóstolo” (Gal 1,19). São Barnabé “contou-lhes como Saulo vira o Senhor no caminho, e que lhe havia falado, e como em Damasco pregara com desassombro o nome de Jesus” (At 9, 27).

Depois de ter passado 15 dias com São Pedro, por causa das ciladas dos judeus “os irmãos levaram-no [São Paulo] para Cesaréia, e dali o enviaram a Tarso” (At 9, 27-30).

São Barnabé procura o auxílio de São Paulo

Entretanto, os fiéis disseminados pela perseguição que se seguiu ao martírio de Santo Estevão iam espalhando por toda parte a semente da palavra divina. Desse modo alguns deles, “de Chipre e de Cirene”, foram para Antioquia, onde pregaram a boa nova da salvação: “A mão do Senhor estava com eles, e grande foi o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor” (At 11, 21). Notícias desse sucesso chegaram aos ouvidos dos Apóstolos, que enviaram Barnabé para verificar o espírito que presidia a essa nova cristandade.

São Barnabé “alegrou-se, vendo a graça de Deus, e a todos exortava a perseverar no Senhor com firmeza de coração, pois era um homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11, 23).

Humilde, esse apóstolo não se julgou apto para orientar os novos cristãos sozinho. Lembrou-se então de Saulo, e foi buscá-lo em Tarso para ser seu companheiro de apostolado.

São Paulo estava em pleno vigor varonil e na força de seu primeiro entusiasmo. Se a igreja de Antioquia já experimentava antes um grande impulso, com os dois Apóstolos cresceu ainda mais.

Eles permaneceram um ano inteiro naquela cidade, onde pela primeira vez os discípulos de Jesus começaram a ser conhecidos como “cristãos”. Essa foi também a primeira igreja a desligar-se do solo originário do judaísmo.

Quando houve fome em toda a Palestina, Paulo e Barnabé foram escolhidos para levar o auxílio dos antioquenhos aos cristãos de Jerusalém (At 11,30).

A primeira viagem apostólica
Os dois apóstolos continuavam a dirigir com fervor a cristandade de Antioquia. Certo dia, “enquanto celebravam a liturgia em honra do Senhor e guardavam os jejuns, disse o Espírito Santo: ‘Segregai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os chamo’”. Essa obra seria a primeira viagem apostólica (At 13,2). “Então, depois de jejuarem e de orarem, eles [os anciãos] lhes impuseram as mãos e os despediram” (At 13, 3).

“Essa imposição das mãos sobre Saulo e Barnabé era a ordenação episcopal? É o sentimento geral. A vocação milagrosa para o apostolado, não tendo isentado Saulo da obrigação de receber o batismo das mãos de Ananias, não se vê por que essa mesma vocação o teria isentado de receber o sacramento da Ordem. Nas vocações mesmo extraordinárias, Deus, que age sempre com medida, não suprime as regras que estabeleceu”.1

Os dois Apóstolos tomaram consigo São Marcos e partiram para a grande aventura apostólica.

Provavelmente foi São Barnabé quem propôs passarem por Chipre. Desembarcaram no porto de Salamina, perto de Famagusta, de onde era originário. Ele sabia que todas as cidades do lado oriental da ilha contavam com prósperas sinagogas e que havia nelas grupos de cristãos (At 11, 19).

São Barnabé – que dirigia a missão – resolveu então atravessar a ilha até Pafos. Nessa cidade residia o procônsul romano Sérgio Paulo, “varão prudente”. Este, sabendo da chegada de Barnabé e de Paulo, chamou-os, “desejando ouvir a palavra de Deus” (At 13, 7).

Depois de um incidente com o mago Bar-Jesus – judeu e falso profeta, que desejava impedir de todos os modos o contato do procônsul com os Apóstolos e que ficou cego após ser increpado por São Paulo –, o procônsul creu.

Admirados pelos prodígios que realizavam,
Paulo e Barnabé foram "adorados" como deuses
pelos pagãos que evangelizavam. 
Abrindo para os pagãos as portas da fé
Na pequena cidade de Listra, São Paulo curou um paralítico de nascença. Devido a esse milagre os pagãos quiseram adorá-lo como deus, gritando que Zeus (ou Júpiter) e Hermes (ou Mercúrio) “desceram a nós”. Diziam que São Paulo, por causa de sua eloqüência, era Mercúrio, e São Barnabé, por seu digno e majestoso porte, era Júpiter. Foi difícil aos missionários convencer a multidão de que eram homens, e não deuses. “Porém, judeus vindos de Antioquia e de Icônio seduziram as turbas, que apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, deixando-o como morto” (At 14, 18-19).

Posteriormente, os dois apóstolos pregaram em Derbe, na Galácia, e na volta fizeram o caminho inverso para visitar e firmar as cristandades por eles fundadas. Retornaram então a Antioquia da Síria, depois de quatro anos de ausência (At 14, 23-26). Os apóstolos “tinham aberto para os pagãos a porta da fé” (At 14, 27).

Surgiu então um incidente com os cristãos judaizantes: insistiam que os pagãos convertidos deveriam submeter-se aos ritos judaicos: “É preciso circuncidá-los e impor-lhes a observância da Lei de Moisés” (At 15,5).

Ora, “fazer a admissão daqueles [pagãos] na Igreja depender da circuncisão e da Lei ritual, significava reduzir a Igreja à estreiteza da Sinagoga, e negar a universalidade da redenção”.2 E era exatamente isto que desejariam os judaizantes, como revela o próprio São Paulo (Gal. 2,4). Tanto ele como São Barnabé eram contrários a essa medida. Resolveu-se então que iriam a Jerusalém decidir a questão com os Apóstolos.

Na assembleia dos Apóstolos na Cidade Santa, considerada o primeiro Concílio da Igreja, São Pedro e São Tiago Menor, sobretudo, declararam-se a favor dos dois apóstolos, contanto que os cristãos oriundos do paganismo se abstivessem das “contaminações dos ídolos, da fornicação, das carnes sufocadas, e do sangue” (At 15, 6-21).

Os Apóstolos enviaram Judas e Silas “com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que têm exposto suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (At 15, 25-26) para transmitir aos fiéis de Antioquia a decisão a que haviam chegado. Silas permaneceu depois em Antioquia, associando-se a São Paulo em suas viagens apostólicas.

São Paulo “resiste em face” ao primeiro Papa
Mas depois ocorreu outro fato a que São Lucas não se refere, e que mostra como a situação continuava ainda crítica por causa da influência dos judaizantes. É o próprio São Paulo quem narra aos Gálatas, com muita vivacidade, esse penoso conflito: “Quando Cefas foi a Antioquia, resisti-lhe em face, porque ele se tornara repreensível. Pois, antes de virem alguns dos de Tiago, ele comia com os gentios; mas, quando aqueles chegaram, ele se retraía e se afastava, por medo dos da circuncisão. E os outros judeus o acompanharam na mesma simulação, tanto que até Barnabé se deixou arrastar à simulação deles” (2, 11).

Palavras duras estas do Apóstolo Paulo em relação ao primeiro Papa! É bom notar que se tratava não de um erro doutrinário de São Pedro, mas de uma atitude prática, se bem que com repercussões muito sérias para o futuro da Igreja. Convém ressaltar também que São Pedro estava inteiramente aberto ao apostolado de São Paulo com os pagãos e lhe deu razão. Ele próprio, no início, sentia-se confortável no meio deles.

Se mais tarde creu que era seu dever acomodar-se às circunstâncias, não foi porque pensasse de modo diferente de São Paulo. Ocorreu que, sendo especialmente encarregado de pregar o Evangelho aos judeus, talvez por receio de ofendê-los, começou a separar-se da mesa dos fiéis provenientes da gentilidade. E essa atitude equívoca arrastou outros judeus, até mesmo a São Barnabé.
Pelo que, continua São Paulo: “Mas, quando vi que eles não caminhavam com retidão segundo a verdade do Evangelho, disse a Cefas diante de todos: ‘Se tu, sendo judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a adotar costumes judaicos?’” (Gal. 2,14-21).

São Pedro “não viu, no lance fogoso e inesperado do Apóstolo das Gentes, um ato de rebeldia, mas de união e amor fraterno. E, sabendo bem no que era infalível e no que não era, cedeu ante os argumentos de São Paulo. Os Santos são modelos dos católicos”.3

Humildemente, São Pedro recebeu a admoestação, reconheceu seu erro e estendeu a mão para São Paulo, desarmando a todos os que tinham escandalizado com sua conduta.

São Paulo e São Barnabé permaneceram em Antioquia “com muitos outros”, pregando o Evangelho, até o dia em que o primeiro propôs ao segundo que voltassem a visitar as cristandades por eles fundadas (At 15,36).

Surgiu então uma divergência entre os dois santos: São Barnabé queria levar de novo São Marcos. Contudo São Paulo se opôs, pois o jovem os havia abandonado sem explicações na Panfília. “Produziu-se certo dissentimento de sorte que eles se separaram um do outro” diz São Lucas (At 15,19). São Jerônimo assim comenta: “Paulo, mais severo, Barnabé, mais clemente. Cada um insiste no seu parecer. Seja como for, a discussão tem algo da humana fragilidade”.4

São Barnabé partiu com João Marcos para a Selêucia, e São Paulo, levando consigo Silas, da igreja de Jerusalém (cf. 1Ped 5, 12), percorreu a Síria e a Cilícia nessa segunda viagem apostólica (At 15, 40).

O incidente com São Barnabé foi rapidamente esquecido tanto por São Paulo quanto por São Marcos. De tal modo que, mais adiante, estão novamente juntos, pois o Apóstolo escreveu a Timóteo: “Traze-me Marcos contigo, pois ele me é muito útil para o ministério” (2 Tim, 4,11).

A partir desse momento, São Barnabé não é mais citado nos Livros Santos, dando lugar a São Paulo.

Segundo antiga tradição, São Barnabé morreu em Chipre, em cuja capital (Salamina) seu corpo foi encontrado no ano de 488. Sua festa comemora-se a 11 de junho.

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Notas:
1. Les Petits Bollandistes, Saint Paul, Apôtre des Gentils et Martyr, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo VII, p. 469, nota 1.
2. Holzner, José, San Pablo, Heraldo de Cristo, Editorial Herder, Barcelona, 1946, p. 128.
3. “A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas. Para a TFP: omitir-se? ou resistir?”, in “Folha de S. Paulo”, 10-4-1974.

4. Apud Pe. José Leite, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, tomo II, p. 230.

(Fonte: site Catolicismo) 

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